terça-feira, 25 de agosto de 2009

"Narcisistas: os mestres da negação", Jeffrey Kluger, Revista Time

Meu professor de Transpsicanálise, André Keppe, costuma dizer que esse momento, digamos, "cultural" da história ocidental pode vir a ser classificado, no futuro, como "período neo-narcisista". Eu acrescentaria um "pós-hedonista". Vivemos um grande "neo-narcisismo pós-hedonista".
O antigo culto ao corpo implicava, pelo menos, melhorar o que se tem. Agora, o próprio corpo tornou-se um produto a ser adquirido - cabelos, seios, cinturas - para ingressarmos no mercado do "amor". Nele, bons investidores conseguem adoração, independência financeira ou substituto de auto-estima até a próxima estação de neo-prostituição. Se o amor é mercado, preciso ser bem de consumo, moeda de troca, e a embalagem é fundamental.
Fico imaginando como serão os cemitérios do futuro. Precisarão ter caixinhas de restos mortais maiores, para acomodar as bolsinhas de silicone da bunda e peitos da titia que "desencascou".
Ainda bem que silicone é inflamável: Com um pouco de fogos de artifício, poderemos vir a ter rituais pirotécnicos nas futuras cremações. Mas isso se houver família para administrar restos mortais.
No pós-hedonismo da geração que ligou o dito "botão de foda-se", os filhos (mal) criados sem limites tornam-se pequenos ditadores domésticos. Educamos, se é que se pode usar esta palavra, um exército de psicopatas, crescendo em um país em crise, voltados para o próprio seio. Ou para o próprio umbigo, já que "seus" seios são artificiais.
Pensando bem, esta geração do "cada um com seus problemas" não terá senso comunitário suficiente para cuidar de "restos", ainda que mortais... Como ativista do Greenpeace, sou obrigado a alertar: do jeito que vai o meio ambiente, a campanha da fraternidade de 2050 pode ser: "recicle o silicone de sua avó".
E tome malhação. E tatuagens excessivas, afinal tudo que não queremos é mostrar a própria "pele". Nada mais simbólico do enchê-la também de furos: A motivação inconsciente do modismo dos piercings me faz lembrar dos pacientes de relatos clássicos da psicanálise, que retalhavam a pele como forma de deixar "alguém preso" sair - aliviando assim sua angústia pessoal. Estariamos fazendo o mesmo, coletivamente, com nossa angústia existencial?
Hoje, é preciso construir outra persona, ilusória. Tatuagens e plásticas são bem vindas, em cima de músculos forçadamente adquiridos em sessões excessivas de academia, não raro diárias. Combinações perfeitas para os silicones e anabolizantes dos que consomem, narcisisticamente, sua inclusão no novo mundo do prazer.
Há também os aditivos do prazer: Em um mundo hedonista que não perdoa falhas, as drogas de maior faturamento no planeta são os anti-depressivos... e auxiliares da ereção!!! Seguidas pelo Ectasy, no mundo ilegal. Coincidência?
Enquanto isso, nas "comunidades" de redes de relacionamento virtual, uma série de sintomas patológicos, intolerâncias e extremismos são assumidos como se fossem características da personalidade. Para quê meio-termo em um mundo de exageros? O importante é "ter atitude", muitas vezes um eufemismo para comportamentos maníacos - alguns deles, bipolares, graças ao Prozac "receitado" por ginecologistas ou clínicos gerais após extenso "exame psicológico" de 15 minutos.
Se alguém estiver triste ou reflexivo, "conserta-se". Não se questiona a sociedade, adapta-se a ela. Terapias instantâneas alienantes proliferam-se, em lugar da análise. Não há tempo a perder, mudando o comportamento já está bom. Se algo der errado adiante, o paciente siliconado que "consuma" a terapia outra vez.
Jung, que faleceu em 1961, previa estarmos criando uma sociedade patológica, onde o excesso do consciente / material / aparente sobre o inconsciente (integrado) / espiritual / subjetivo reproduziria a própria estrutura da neurose, a ponto de perdemos a coincidência dos limites entre saudável e normal. E hoje, alternando entre neuroses e psicoses, evoluímos para uma sociedade... "borderline".
Neste cenário, para quê se comprometer, atravessar dificuldades ou perdoar? Vamos "ficar", que a fila anda. Se não for divertido, não fazemos mais. "Amor" descartável, comprado pela aparência, voltado ao prazer.
A questão é que o narcisismo individual favorece o comportamento egocêntrico, descontinuidade afetiva e instabilidade emocional. Tornando-se um modelo coletivo de "normalidade", bem como um diferencial de inclusão afetivo social, construiu uma sociedade de "cada um por si", relacionamentos descartáveis, aqui-agora, perdas constantes, onde não há "culpa" (leia-se: responsabilidade) sobre o que se prometia - ou exigia.
A mídia molda o indivíduo, refletido coletiva e patologicamente na "sociedade", e esta não precisa mais da parte para se perpetuar. Não é apenas um silicone ou academia: estes são realimentação de algo maior anterior.
Neo-narcisismo pós-hedonista. Viva o corpo e o prazer, pra ver se isso aplaca, no que "estou", a angústia do que não consigo "ser".

Imagem é tudo. A fila anda. Tudo pelo prazer. Vamos à academia trabalhar anabolizantes e silicones, perseguindo um "modelo" distante da saudável exequibilidade, salvo consumo adicional. Precisamos estar bem para mostrarmos nossa nova pele tatuada e furada, ferida na alma, para o amor descartável que temos que conquistar hoje... antes de deixarmos amanhã, na primeira dificuldade ou novo prazer, assim que a "fila andar".
Lázaro Freire,

_____________________________________________________________________________________________

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Chefes Narcisistas...como lidar?

Difícil não reconhecermos algum parente ou colega de trabalho, quando lemos um pouco da teoria sobre o narcisismo. Nada fácil é nos enxergar nela, assumir nosso telhado de vidro. Mas o fato é que, em maior ou menor grau, todos somos narcisistas e talvez seja o Narciso em nós que nos impulsione a buscar e alcançar nossas ambições.
Isso posto, deixarei o politicamente correto de lado, para confessar que, ao estudar o narcisismo, uma fila de chefes que tive desfilou pela minha mente. Por que os chefes? Ora, precisa explicar? Chefes são as personagens mais engraçadas, se tivermos condições de olhá-los a distância, mais longe de todo o amor e todo o ódio que possam despertar em nós. Aos nossos olhos subalternos e parciais, são como caricaturas, isto é, têm alguns traços exagerados: um nariz gigante ou um ego descomunal. Como já fui tanto chefe quanto subordinada, falo isso com tranquilidade.
Mas suponhamos que o narcisista é o seu chefe. Com base nas características que os grandes estudiosos Heinz Kohut, Otto Kernberg e Alexandre Lowen elencam sobre o narcisista que ouso chamar “típico” (com base na observação de ambientes de trabalho), deixo aqui algumas dicas que lhe ajudarão a jogar o jogo. Ou a romper com ele.
1ª: deixe que ele se exiba – como uma menininha que desfila, orgulhosa, sua fita cor-de-rosa no cabelo, o chefe narcisista gostará de desfilar seus predicados para você. Mostre-se receptivo a ouvi-lo e sorria enquanto o faz. Se não tiver o que dizer, use exclamações e perguntas vazias e ambíguas, mas que podem mostrar interesse, como: “É mesmo?”, “Não acredito que você fez isso!” ou “E aí, o que aconteceu?”. Não boceje.
2ª: faça bilu-bilu – o narcisista não foi suficientemente espelhado em sua infância. Seja um pouco mamãe ou papai do seu chefe narcisista e faça bilu-bilu nele. O narcisista adora adulação e é justamente aí que reside seu maior ponto fraco. Ele quer ser admirado e você não deve poupar elogios. Se o seu chefe é um narcisista de carteirinha, não se preocupe. Ele não notará, se você estiver sendo mais falso que uma nota de R$3. Afinal, você vive dizendo que ele não consegue distinguir os puxa-sacos dos colaboradores que, de fato, colaboram, não é? Se não pode vencê-los...
3ª: nunca discorde, pelo menos não diretamente – o supernarcisista não lhe enxerga como um ser humano à parte. Você é parte dele e não pode, em nenhuma hipótese, estar em dissonância com o que ele quer. Ao discordar, você o estará rejeitando, e não colocando sua opinião franca para o bem da empresa. Assim, se você não quer tirá-lo do sério, você pode escolher entre simplesmente dizer que concorda ou, então, dizer, com muita calma e sorriso no rosto, que ele tem razão em destacar isso e aquilo, mas que você tem uma dúvida e deseja perguntar se ele considerou aquilo outro... Discorde sem discordar. Similarmente, jamais demonstre indiferença ou desaprovação em relação às preferências do chefe. Nunca diga “golf me dá sono” ou “gosto mais do interior de Minas do que de Miami”, se ele joga golf e acha Miami bárbara. Jamais ponha em cheque a ilusão de poder do narcisista sobre os pensamentos alheios. Você poderá mesmo despertar a fúria narcísica. E aí vêm gritos, broncas desproporcionais e vingança. Você já reparou como ele se vinga? Pensava que fosse uma questão zodiacal?
4ª: não se deixe abalar pelo sadismo – o sádico narcisista tentará, de algum modo, diminuir seu valor. Talvez seja o único jeito que ele encontrou para aumentar seu próprio valor. Não esquente. Ele divide o mundo em aspectos bons e maus. É claro que ele está no lado bom. Ah, os outros são tão maus! Mas tudo tem limite: não confunda estilo de liderança com abuso moral, que dá até processo (o que não é nada perto das crises de ansiedade, pânico e gastrite que a parte vitimada pode ter).
5ª: não apele para os sentimentos – narcisistas não sentem. Eles aprenderam, em algum ponto, que sentir é ruim. Bloquearam o acesso ao coração, por mais “generosos”, “simpáticos” e “sedutores” que lhe pareçam. Assim, ele também não terá nenhuma sensibilidade em relação aos seus sentimentos (esqueça a empatia), tampouco você deve aborrecê-lo com comentários do tipo “Você deve estar muito triste com a morte do seu cachorro, eu também sofri quando o meu morreu”, ou “Você também não está com saudades do fulano que está em férias?”. Também não tente convencê-lo de que ele deve agir assim ou assado, para que as pessoas fiquem mais felizes ou para que a vida no planeta seja mais pujante. No máximo, ele poderá ser adestrado, se conseguir ligar uma mudança de comportamento ao enaltecimento de sua imagem, como, por exemplo, ser reconhecido como um líder que abraçou a causa ecológica. O narcisista se esmera para cultivar sua imagem. Ele não sabe que sua casca não corresponde à sua essência, aquela que ele precisou bloquear e, por isso, não tem acesso aos sentimentos.
6ª: louve símbolos que o dinheiro compra – não tente convencer seu chefe narcisista de que andar descalço no litoral com seu filho lhe faria bem à saúde física, mental e espiritual. “Espiri-o-quê?” Você o aborrecerá com qualquer conselho que não seja “apareça”. Ele nutre a imagem, como disse. Então, ele não consegue se desapegar do que a sociedade entende como vitória. No nosso caso, isso ainda parece ter a ver com status, fama, grifes, barriga de tanquinho e muito trabalho. Seu valor reside mais no número de e-mails que ele recebe em seu smartphone do que no número de sorrisos que seu filho lhe dá. Se você deixar claro que não compartilha certos valores, terá problemas. Pelo menos finja que quer ser igualmente V.I.P.
Assim se dança conforme a música, o que pode ser muito oneroso. Quero ressaltar que os efeitos do narcisismo dependem não apenas do grau em que traços como os que citei aparecem no chefe ou em quem quer que seja, mas também das características daqueles que estão sob a mira do narcisista. Alguns de nós somos mais suscetíveis, dependentes ou masoquistas, outros menos.
O assunto merece, certamente, tratamento muito mais sério do que o que aqui adotei. Mas talvez o sarcasmo seja uma estratégia de denúncia. E também de estímulo à reflexão. O que o move? Imagem e poder mais do que sentimentos genuínos? De que você mais precisa: admiração ou paz de espírito? Como anda se comportando o narcisista que existe em você?

Por Alexandra Delfino de Sousa (administradora de empresas e diretora da Palavra Mestra)HSM Online

sábado, 15 de agosto de 2009

Solange tem alguns conselhos para nós...

"Acabo de romper meu namoro. Esta não é a primeira vez que terminamos, mas acho que será a última. Rompi com meu namorado pelo mesmo motivo das outras vezes. Ele diz e faz coisas tão odiosas e insensivíes que me sinto constrangida de relatá-las a qualquer pessoa. O tom de voz de quando fala comigo às vezes pode ser absolutamente repugnante. Eu não falaria com ninguém do jeito como ele fala comigo.
"Sempre acabo voltando para o meu namorado porque ele me convence a fazer isso com palavras doces. Eu o amo quando ele é delicado comigo, mas o odeio quando é grosseiro. depois de ficar voltando para o meu namorado durante dez anos, acho que aprendi algumas coisas sobre a personalidade dele. É doloroso para mim enfrentar algumas delas. Creio que o ponto principal é o seguinte: percebo que, na verdade, não sou importante. Quando meu namorado é agradável comigo, a atitude dele não tem nada a ver comigo. E quando ele é ofensivo, seu comportamento tampouco está relacionado a mim. As pessoas sempre me disseram para não tomar como pessoal as atitudes ofensivas dele, mas agora percebo que não devo tomar NADA como pessoal.....nem mesmo as partes boas. Ele é apenas um cara que desconhece o amor, e eu sou a garota em que ele tropeçou. Não precisava ser eu a me envolver com ele; poderia ter sido qualquer pessoa que prestasse atenção nele. Preciso parar de tomar como pessoal as coisas que ele faz". - Solange -

Leila: comenta:
É extremamente doloroso enfrentar a idéia de que as declarações de amor e romance deles podem estar mais relacionadas com o modus operanti dele do que com o que ele sente por nós. É também muito doloroso enfrentar a idéia de que, quando ele fica zangado conosco, a raiva que ele sente tem mais a ver com seus próprios problemas do que conosco. Essas constatações podem fazer com que nós e o relacionamento pareçam inexpressivos, o que pode doer muito. No entanto, quando começamos a não tomar essas atitudes como pessoais, passamos a entender melhor o que esta acontecendo.
Não estou dizendo que não exista uma ligação entre vc e seu parceiro, porque ela sem dúvida, esta presente. No entanto, toda essa euforia espetacular e as crises terríveis são oriundas de uma parte da psique de seu parceiro que, na verdade, não está conectada a mais ninguém. Trata-se de um melodrama sem nenhuma profundidade. Este é um ponto importante a ser lembrado quando vc tenta ter relacionamento com eles. cabe lembrar que eles são famosos pelas emoções superficiais. Significa que, em determinado momento, seu parceiro pode estar soluçando em seus braços e, no momento seguinte, dançando um tango com uma pessoa desconhecida.
Não podemos de forma alguma confiar nas emoções deles. - Leila -

Eles raramente são maçantes ( no início)

Os parceiros românticos dos narcisistas/psicopatas os acham atraentes.
Os narcisistas/psicopatas nos atraem para seu mundo , dizem o que queremos ouvir, envolvem-nos em seus dramas pessoais e nos incluem em suas fantasias.
Outro motivo que torna eles interessantes é o fato de eles possuírem uma aura de intensidade e paixão.
Algumas pessoas também acham que eles são cativantes porque tendem a falar a respeito de si mesmos . As mulheres, em particular, consideram essa qualidade muito atraente. Elas gostam de conviver com homens que não tem medo de falar sobre a própria vida, sentimentos e sonhos. Os homens acomodados nas situações sociais às vezes preferem relacionar-se com mulheres comunicativas, porque, assim, são menos solicitados.
Quando saímos pela primeira vez com uma pessoa narcisista/psicopata , e ela tem a intenção de nos impressionar, é pouco provável que ocorram interrupções ou pausas embaraçosas na conversa. O narcisista/psicopata preencherá todos os espaços. Quando o conhecimento é recente, o narcisista/psicopata parece fazer quase todo o trabalho para que o relacionamento decole. Os narcisistas/psicopatas gostam de seduzir pessoas novas e, quando alguém esta prestando muita atenção em nós, raramente ficamos entediados . Quando eles estão com uma disposição idealista, eles podem ser destemidos com relação a desfiar fantasias a respeito de um futuro que inclui você. Eles falam sobre coisas que vocês farão juntos e sobre como irão se divertir.
Mais tarde, é claro, quando eles estiverem em uma fase de declínio ou agindo a partir de um sentimento de merecimento, você terá a impressão de que está fazendo todo o trabalho para manter o relacionamento.
Lembre-se de que o relacionamento a longo prazo com eles acabará tornando-se maçante. Você se cansará das histórias, da atitude de merecimento, da falta de empatia e do comportamento difícil e extravagante. Você, provavelmente, também descobrirá, com o tempo, que as emoções deles são muito superficiais e que toda a paixão e a intensidade são basicamente uma fachada.

Suzana conta!!

Há alguns anos, Suzana saiu com um homem que lhe disse abertamente que tinha problemas de narcisismo (psicopatia leve) . Ela relata o seguinte:
"Ele estava com quase 40 anos, mas eu ainda estava com vinte e poucos anos e não tinha a sofisticação necessária para compreender esse tipo de problema psicológico. Eu não tinha a menor idéia do que era narcisismo. Ele me deu vários livros sobre o assunto, que eu li atentamente. Também o ouvi falar em detalhes a respeito de sua ferida narcisística original e de seus sentimentos internos de narcisismo e perda. Tudo parecia muito triste, e devo admitir que a intensidade emocional que ele expressava o tornava bastante interessante.
"Quando ele falava a respeito do nível de dor, desconforto e vazio que sentia na vida cotidiana, eu me tornava, de modo geral, ainda mais sensível a ele. Lembro-me de ter pensado que faria tudo o que estivesse a meu alcalce para garantir que nunca lhe causaria mais tristeza. Eu queria ser a pessoa especial que o faria sentir-se melhor. É claro que hoje reconheço que meus problemas de narcisismo alimentavam esses pensamentos. Eu seria a "pessoa especial" que curaria seus traumas emocionais. Em troca, eu esperava que ele fosse meu "verdadeiro amor". Na verdade, tratava-se de um relacionamento marcado por altos e baixos que me deixavam magoada e traída.
"Certa noite, fomos a uma festa oferecida por uma conhecida minha. meu namorado e eu estávamos conversando com ela quando ele se voltou para mim e disse algo como: "Querida, vc pode preparar um sanduíche para mim? Eu respondi que o faria com prazer. Fui até o bufê, preparei com esmero um prato com sanduíche e salada e levei para ele.
Nossa anfitriã pediu licença e retirou-se enquanto ele pegava o prato de minha mão. Ele me olhou com lágrimas nos olhos e comentou: 'Você é a primeira pessoa em minha vida a quem posso pedir tranquilamente que me prepare sanduíche. se eu pedisse isso à minha ex mulher, ela teria me mandado preparar meu próprio sanduíche. Nenhuma mulher até hoje me ofereceu o que vc tem me dado.'
"Seu olhar lacrimejante fixou-se no meu, e fiquei desconcertada com o que ele parecia estar sentindo e pelo que senti em troca. Aquele foi o tipo de momento que me proprorcionou a convicção de que ele realmente me amava. Nosso relacionamento terminou porque ele era notadamente infiel, e nada que eu fizesse seria bastante para expulsar seus demônios.
"Anos mais tarde, muito tempo depois de nosso relacionamento ter terminado, almocei com a mulher que dera aquela festa. Reproduzo, a seguir, nosso diálogo:
- Existe algo que sempre quis lhe contar - disse ela -, mas eu me senti muito culpada.
- O que foi? - perguntei.
- Vc se lembra do Jack, o cara com quem vc estava saindo?
- Claro. O que tem ele?
- Fiz uma coisa da qual me arrependo. Tive um rápido caso com ele.
- Quando? - perguntei.
- Vc lembra daquela festa que eu dei?
- Com certeza.
- Ainda me lembro de quando Jack lhe pediu que preparasse um sanduíche para ele. Durante sua ausência, ele me disse que se sentia muito atraído por mim e perguntou se poderíamos nos encontrar. Estou tão arrependida - ela declarou. - Ele me disse que o relacionamento de vocês era praticamente platônico e que estava quase terminando. Não sei porque acreditei nele. Acho que me senti lisonjeada. Ele era um grande ator, mas não fui esperta o suficiente para entender o que estava acontecendo. Não existe desculpa para o que eu fiz, e sempre me senti culpada."
Suzana diz que ao ouvir essa história ficou literalmente de queixo caído.