Há alguns anos, Suzana saiu com um homem que lhe disse abertamente que tinha problemas de narcisismo (psicopatia leve) . Ela relata o seguinte:
"Ele estava com quase 40 anos, mas eu ainda estava com vinte e poucos anos e não tinha a sofisticação necessária para compreender esse tipo de problema psicológico. Eu não tinha a menor idéia do que era narcisismo. Ele me deu vários livros sobre o assunto, que eu li atentamente. Também o ouvi falar em detalhes a respeito de sua ferida narcisística original e de seus sentimentos internos de narcisismo e perda. Tudo parecia muito triste, e devo admitir que a intensidade emocional que ele expressava o tornava bastante interessante.
"Quando ele falava a respeito do nível de dor, desconforto e vazio que sentia na vida cotidiana, eu me tornava, de modo geral, ainda mais sensível a ele. Lembro-me de ter pensado que faria tudo o que estivesse a meu alcalce para garantir que nunca lhe causaria mais tristeza. Eu queria ser a pessoa especial que o faria sentir-se melhor. É claro que hoje reconheço que meus problemas de narcisismo alimentavam esses pensamentos. Eu seria a "pessoa especial" que curaria seus traumas emocionais. Em troca, eu esperava que ele fosse meu "verdadeiro amor". Na verdade, tratava-se de um relacionamento marcado por altos e baixos que me deixavam magoada e traída.
"Certa noite, fomos a uma festa oferecida por uma conhecida minha. meu namorado e eu estávamos conversando com ela quando ele se voltou para mim e disse algo como: "Querida, vc pode preparar um sanduíche para mim? Eu respondi que o faria com prazer. Fui até o bufê, preparei com esmero um prato com sanduíche e salada e levei para ele.
Nossa anfitriã pediu licença e retirou-se enquanto ele pegava o prato de minha mão. Ele me olhou com lágrimas nos olhos e comentou: 'Você é a primeira pessoa em minha vida a quem posso pedir tranquilamente que me prepare sanduíche. se eu pedisse isso à minha ex mulher, ela teria me mandado preparar meu próprio sanduíche. Nenhuma mulher até hoje me ofereceu o que vc tem me dado.'
"Seu olhar lacrimejante fixou-se no meu, e fiquei desconcertada com o que ele parecia estar sentindo e pelo que senti em troca. Aquele foi o tipo de momento que me proprorcionou a convicção de que ele realmente me amava. Nosso relacionamento terminou porque ele era notadamente infiel, e nada que eu fizesse seria bastante para expulsar seus demônios.
"Anos mais tarde, muito tempo depois de nosso relacionamento ter terminado, almocei com a mulher que dera aquela festa. Reproduzo, a seguir, nosso diálogo:
- Existe algo que sempre quis lhe contar - disse ela -, mas eu me senti muito culpada.
- O que foi? - perguntei.
- Vc se lembra do Jack, o cara com quem vc estava saindo?
- Claro. O que tem ele?
- Fiz uma coisa da qual me arrependo. Tive um rápido caso com ele.
- Quando? - perguntei.
- Vc lembra daquela festa que eu dei?
- Com certeza.
- Ainda me lembro de quando Jack lhe pediu que preparasse um sanduíche para ele. Durante sua ausência, ele me disse que se sentia muito atraído por mim e perguntou se poderíamos nos encontrar. Estou tão arrependida - ela declarou. - Ele me disse que o relacionamento de vocês era praticamente platônico e que estava quase terminando. Não sei porque acreditei nele. Acho que me senti lisonjeada. Ele era um grande ator, mas não fui esperta o suficiente para entender o que estava acontecendo. Não existe desculpa para o que eu fiz, e sempre me senti culpada."
Suzana diz que ao ouvir essa história ficou literalmente de queixo caído.
Também fiquei de queixo caído!
ResponderExcluirÉ como Suzana diz, a gente fica achando que é aquela pessoa especial que vai "salvar" o cara, e se dá mal.
Uma excelente postagem!
ResponderExcluirO vazio completo de sentimentos, de empatia eis o que é o narcisista.
O pior é quando esvaziam os outros com o seu vazio intrínseco. Porque a natureza não admite a existência de vazio, para alguém tem de ser transferida a dor do vazio. Que é imensa.